Tributo a excelência por Moacir Oliveira


TRIBUTO A EXCELÊNCIA

Se és capaz de ter um coração puro, voltado para o divino,
Com perspectiva correta de si mesmo e de sua pobreza;
Sem um apego desmesurado ao temporal,
Sabendo que as coisas visíveis perecem e as invisíveis são eternas,
Se és capaz de caminhar entre os grandes da terra,
Sem tentar tirar proveito ou sentir-te inferior,
E sentar com os pequenos sem olhá-los com desprezo,
Mas revelar nobreza pela maneira digna de tratá-los,
Se és capaz de colocar-te em último lugar,
Sem murmurar ou achar-se preterido,
Não abraçar o orgulho que transforma anjos em demônios,
E homens cheio de si, em arbustos no deserto, esquecidos,
Se és capaz de preferir que a posteridade inquira,
Com grande pesar e tristeza, qual a razão,
Porque não foi erigida uma estátua em tua homenagem,
Do que perguntarem: Por que foi que a fizeram?
Se és capaz de não conseguir ser uma estrela no céu,
Ser uma estrela na terra...Se não podes ser uma estrela na terra,
Ser o fogo no alto da montanha...
Se não podes ser o fogo no alto da montanha,
Ser a vela humilde que brilha dentro da casa,
Se és capaz de distribuir justiça a grandes e pequenos,
Com direitos iguais para todos,
Sem privilégios especiais para ninguém;
Sem pensar que és um sábio ou um modelo de virtudes,
Se és capaz de preservar em ti, a meiguice e doçura da criança,
Temperando com sua alegria a sabedoria dos anos acumulados,
Discernindo os tempos, os homens e o futuro,
Sendo um marco para muitos, por sua integridade,
Se és capaz de considerar que a verdadeira sabedoria,
Consiste em abraçar a vontade de Deus,
Renunciando a sua própria, sem tomar como perda,
Mas como uma grande fonte de lucro,
Se és capaz de alimentar-te com a verdade,
E brilhar no meio de tanta mentira e engano,
E considerar a hipocrisia e a calunia,
Como a pior de todas as companheiras,
Se és capaz de ser leal, quando todos te abandonaram,
De perdoar o mais vil e indigno, sem que te peça perdão,
Ser capaz de dar ternura ao que destila ódio,
E de ter a amargura como a pior desventura,
Se és capaz de teres um coração quebrantado,
Derramando paz, alegria, vida e alento,
De amar sem ser amado, se ferido, voltar o outro lado,
Suportar a dor da solidão sem nenhum suspiro amigo,
Se és capaz de forçar os teus braços e pernas,
A servir-te incansavelmente em uma boa causa,
A uma criança, um velho, uma viúva aflita,
Sem esperar louvor ou recompensa alguma,
Se és capaz de estender a mão ao débil e cansado,
Ao faminto, ao inútil, ao desesperado,
Matar a fome e a sede do teu pior inimigo,
Ou com o perverso, andar uma milha, duas, ou a vida inteira,
Se és capaz de honrar os que realizam maiores feitos que os teus,
Sem sentires inveja ou pretensa indiferença,
Mas reconhecer que podes fazer mais e melhor do que tens feito,
Por que há dentro de ti um mar de possibilidades imensas,
Se és capaz de suportar a rejeição e o escárnio,
Por teres abraçado um ideal que os outros escusam,
E estar disposto a pagar o preço, qualquer preço,
Sem te encheres de auto-compaixão ou amargura,
Se és capaz de negar-te a ti mesmo e abraçar a cruz,
Um jugo suave e leve, onde Ele morreu,
Sem considera-la um instrumento de suplício ou de dor,
Que te libertará do pior de todos os impostores: teu próprio Eu,
Se és capaz de andar dia após dia na senda do calvário,
Alegremente carregando tua cruz em comunhão,
Dando vida aos outros, mortificando tua carne,
Enquanto tornas-te humilde e manso de coração,
Se és capaz de esmurrar teu corpo já cansado,
E sujeita-lo a uma disciplina espartana,
Afim de conquistar a firmeza de caráter necessária,
Sem perder no entanto a simplicidade e a ternura,
Se és capaz de odiar a iniqüidade e o pecado,
Aspirando a santidade como uma fragrância de vida,
Não sendo um teórico ou um estéril legalista,
Mas despojando-te do mal e vestindo-te com a justiça,
Se és capaz de manter-te puro e honesto,
No meio da corrupção e miséria que te cerca,
Sem te contaminares com as seduções deste mundo,
Sabendo no entanto, que pouco tempo lhe resta,
Se és capaz de contender com Satanás,
Sem esmorecer, capitular ou ceder-lhe terreno,
Mas bater-se com ele em luta renhida e sem trégua,
Fazendo-o recuar até o lugar que lhe pertence: O Inferno,
Se és capaz de suportar as fraquezas dos fracos,
Por reconheceres a tua própria fraqueza e ruína,
E a tua força como não sendo tua,
Mas uma manifestação da graça divina,
Se és capaz de olhos abertos, sonhar,
Com alturas jamais imaginadas,
Sem que teus sonhos sejam escape ou fantasia,
Mas mola propulsora de grandes realidades,
Se és capaz de viver neste mundo louco e cruel,
Sem duvidares que haverá um novo e lindo amanhã
Acreditar no homem, mesmo que caido e vilão,
Porque é alvo do amor de Deus e de sua restauração,
Se és capaz de suportar o infortúnio e a desgraça,
Como uma simples nuvem negra que perece,
E a manter intacta a tua fé e esperança,
Crendo que tudo podes, naquele que te fortalece,
Se és capaz de viver minuto, após minuto,
Em atitude de piedosa oração com o Pai em unidade,
A fim de permear com misericórdia e bondade,
Cada ação, cada gesto, vivendo o amor e a fraternidade,
Se és capaz de andar em cada instante,
Sendo guiado por sua Palavra e pelo seu Espírito,
E serdes sábio, manso, corajoso,
Integro, vitorioso e triunfante,
Se assim fores meu filho, o reino será teu,
Será teu tudo o que nele existe,
Pois tornaste digno do trono da coroa e da glória,
Porque se assim fores... serás um dos seus,
E acima de tudo...
Serás um homem...um homem amado de Deus!


Moacir Ramos de Oliveira
Primavera de 1996